Sofala regista maiores taxas da violência contra mulheres
A Província de Sofala é a região do país com maiores taxas de violência contra as mulheres, indica o relatório do inquérito sobre a violência contra mulheres e raparigas em Moçambique apresentado hoje na UEM.
O estudo, realizado por pesquisadores do Centro de Coordenação dos Assuntos do Género da Universidade Eduardo Mondlane (CeCAGe), aponta a violência económica, cifrada em 53 por cento, como a mais usada. A violência sexual ocupa o segundo lugar (49 porcento), seguido da violência física (39 por cento) e psicológica (37 por cento).
A pesquisa avaliou as tendências deste flagelo também nas províncias de Gaza e Nampula. Gaza ocupa o segundo lugar e as violências física e psicológica estão igualadas com 40 por cento cada, seguido da sexual (35 por cento) e económica (22 por cento). Em Nampula a violência económica ocupa a primeira posição com 25 por cento, 23 para a psicológica, 21 para a física e 16 por cento para a violência sexual.
O inquérito abrangeu 1750 mulheres e raparigas com idades que variam de 15 a 34 anos e tinha como objectivo produzir recomendações que auxiliem na melhoria das políticas, estratégias e mecanismos de prevenção e assistência às vítimas de violência.
A maior parte das mulheres inquiridas apresenta níveis baixos de escolaridade, sendo 37.4 porcento sem grau de escolarização, 32.7 com nível primário e 20.4 por cento com nível pós-primário (secundário, técnico-profissional ou universitário).
Segundo a Professora Doutora Alda Saíde, pesquisadora que apresentou o relatório, a violência contra as mulheres e raparigas é um fenómeno social quase naturalizado, mas de extrema gravidade. Impede o pleno desenvolvimento económico, social e cultural da população ao colocar em risco permanente mulheres e raparigas de todos estractos sociais. Por isso, a necessidade em compreender os contornos do assunto dentro e fora de casa.
Segundo disse, todos os actos de violência ilustram relações de género desiguais manifestadas nos desequilíbrios de poder entre homens e mulheres.
O estudo conclui que a violência contra a mulher é um dos crimes mais graves, mas que menos denúncias tem recebido. As mulheres preferem procurar apoio de um familiar chegado ao invés da polícia. Por isso, o relatório recomenda a divulgação da legislação, instrumentos e mecanismos sobre a violência contra mulheres e raparigas baseada no género assim como dos serviços de apoio a mulher e rapariga vítima de violência para que elas saibam onde pedir a assistência.
Alda Saíde explicou que a escolha das três províncias para o estudo teve como base a dimensão populacional, representatividade regional, representatividade da estrutura sócio-cultural (patrilinear e matrilinear), elevados índices de violência contra mulheres e raparigas reportados no estudo de 2004 e dispersão geográfica.
Presente na cerimónia, o Vice-Ministro de Género, Criança e Acção Social, Dr. Lucas Mangrasse, referiu-se à violência baseada no género como um grave problema que afecta a sociedade moderna. “Ela não tem fronteiras, assume diversas categorias, desde a física, íntima, moral, patrimonial, as uniões prematuras e forçadas, o tráfico sexual e o estupro”, disse, acrescentando que este mal tem origem na estrutura social, valores, tradições, costumes, hábitos e crenças ligadas a desigualdade sexual.
Salientou os esforços do Governo, da sociedade civil e parceiros na materialização de instrumentos e programas de protecção dos direitos das mulheres e raparigas e no combate a este mal social.
Por sua vez, o Reitor da UEM, Prof. Doutor Orlando Quilambo, afirmou que o lançamento do relatório traduz o compromisso da sua instituição com a causa da luta por um mundo mais inclusivo e livre da violência do género em todas suas formas.
“A UEM constitui por excelência um espaço de produção de conhecimento científico útil para a resolução dos mais diversos problemas da sociedade. Temos promovido com alguma regularidade a pesquisa sobre temáticas relacionadas com o género. Acreditamos que, desta forma, materializamos a nossa responsabilidade de contribuir para o enriquecimento do debate sobre a promoção de iguais oportunidades e da não descriminação”, disse.
A realização do inquérito contou com o financiamento da ONU Mulheres. Drª. Marie Laetitia Kayisine, representante daquela organização em Moçambique, disse ser necessário mais dados sobre os assuntos do género. Segundo ela, a ausência de dados pode impedir o progresso e o desenho de políticas eficazes. “O Conhecimento científico pode desempenhar o papel fundamental na construção de um futuro de igualdade no mundo. Estão de parabéns por terem assumido este compromisso”.
O lançamento do relatório coincide com as comemorações do mês da mulher, que decorre de 04 de Março a 07 de Abril, sob lema “Mulheres na Liderança: Contribuindo para um futuro de igualdade num mundo com a COVID-19”.